QUANDO
AS PEDRAS CLAMAM E AS MULAS FALAM
“Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe
responderá do madeiramento.” (Hc 2.11)
Estou escrevendo esta
pastoral no auge das manifestações populares contra a corrupção e contra os
desmandos dos governantes do nosso país. Acabei de ler uma frase, escrita em
cartolina erguida pelas mãos de um jovem manifestante, que dizia: “O Brasil acordou, saímos da inércia!” Confesso
que recordei com saudades os meus tempos de adolescente, quando participei de
passeatas promovidas por movimentos estudantis entre os anos 1978 e 1984, ainda
na ditadura militar, anos nos quais eram indispensáveis ousadia e coragem para
protestar; época na qual ser cristão evangélico protestante também exigia
perseverança na fé com ousadia e coragem ainda maiores, pois éramos em número
muito menor do que a quantidade de pessoas que hoje se dizem evangélicas.
Segundo o IBGE, até a década de 70 éramos 5,2% dos brasileiros, e na década de
80 apenas 6,6%, hoje somos aproximadamente 23% da população brasileira. Sendo
verdadeiros os dados do IBGE, fico me perguntando: Por que com tantos
evangélicos no Brasil os valores éticos e morais dos brasileiros continuam se
afastando cada vez mais dos princípios e valores cristãos da Palavra de Deus?
Por que a corrupção política e social que motiva as injustiças sociais e a
criminalidade em nosso país tem dominado a nossa sociedade? Cadê o povo evangélico
que parece não estar causando nenhuma diferença com seu comportamento cidadão? Será
que o povo de Deus se esqueceu ou não sabe que o evangelho que salva o pecador
é o mesmo que nos constrange ao amor e à prática da justiça e da santidade por
meio de obras que dão testemunho do caráter de Cristo em nós? A luz do mundo e
o sal da terra se esconderam? Fiquei feliz em saber que muitos evangélicos,
inclusive da nossa igreja, estão se juntando aos movimentos populares que, sem
bandeiras de partidos políticos, mobilizam-se por mudanças que melhorem as
condições de vida na pátria amada Brasil. Fico pensando nos possíveis 40
milhões de evangélicos tomando conta das ruas e liderando a população
brasileira por reformas políticas, judiciárias e tributárias necessárias ao
desenvolvimento do país, indispensáveis para erradicar as injustiças sociais e
para combater a corrupção e as mais diferentes ações criminosas que hoje contam
com a impunidade. O nosso Mestre convocou os seus discípulos dizendo: “... Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus; bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus; ... exultai e alegrai-vos, porque
é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós.” (Mt 5.6-8,12). Penso que este é um tempo de
oportunidade para que os evangélicos comprometidos com o bom testemunho da fé
cristã mostrem que o povo de Deus não está alienado e muito menos se contentando
com a omissão social; este é o tempo oportuno para assumir papel de luz do
mundo e de sal da terra, tempo de atitudes que evidenciem o mover especial de
Deus nos fazendo abençoar o próximo e a nação com o fruto do Seu Espírito
Santo. Para que as pedras não clamem, as madeiras não reclamem e as mulas não
falem, o povo de Deus deve agir corajosa e profeticamente contra o pecado e em
favor do amor e da justiça.
Seu
servo, amigo e pastor Javan Ferreira